quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A ESPERA DO FRANGO ABATIDO




A espera do frango abatido
Mais um da série das coisas que só acontecem comigo

                   Ir a feira ou ao mercado é uma das atividades mais comuns em cidades de pequeno e médio porte, já nas grandes com o advento dos deliverys, poucos se aventuram em coisas tão bucólicas e/ou prosaicas quanto o fato de sair a caça de seu próprio alimento, mas muitos de nós sabemos que desde tempos imemoriais ou das cavernas foi dado ao homem a descoberta da necessidade dele precisar buscar informações de como chegar até a esse alimento; viu, ou melhor ouviu pessoal do telemarketing, por que ler no trabalho é praticamente impossível.
                      Peço desculpas por esta pequena introdução, e talvez você fique se perguntando o  que o frango abatido tem a ver com telemarketing e com minhas andanças literárias, então vamos ao fato: Caminhar nos últimos tempos tem sido uma rotineira e prazerosa tarefa, pois observar o mundo que me cerca é uma das minhas atividades mais divertidas e sobre-humanas e ontem quando minha irmã me solicitou que fosse comprar um frango abatido na hora pra que ela o fizesse ao molho pardo, claro que obteve meu pronto atendimento e me prontifiquei de levantar muito cedo e aproveitaria para retomar minha atividade física , perguntei-lhe então a que horas o abatedouro abriria, ela me informou que depois das sete...quando acordei, depois da higiene natural , coloquei o tênis e lá fui eu atrás do estabelecimento de seu Hélio, o dono do tal abatedouro, no meu percurso até lá , passei pelo morro do bumba, (alguém lembra da tragédia?), e segui o meu caminho, observando as pessoas que atravessavam o meu caminho, na grande maioria mulheres , atracadas literalmente a suas pequenas bolsas de valores particular por medo obvio que algum larápio, seguro de sua atividade e protegido pela justiça brasileira, surripiasse o suor de seu trabalho, esse sim sem proteção alguma, homens engravatados dirigindo os seus possantes pela estrada do viçoso jardim e outros tantos em pé de chinelos , de bermudas e camisas nos ombros, mas uma coisa me chamou particularmente a atenção: a quantidade de meninos vestidos de uniformes de futebol, alguns acompanhados de suas mães, outros sozinhos, embora sei que existam,infelizmente não observei nenhum pai entre eles , e outra coisa curiosa, é que o uniforme que era de um projeto esportivo, tinha escrito o nome , pasmem: TIO SAM!, gentem, mais Barac, impossível! Só se for nas Casas Bahia! Aquilo me chamou atenção de tal forma que não resisti e puxei conversa com uma dessas mães que aguardava o transporte público com o pequeno agarrado a sua mão, e ela então me conta que a esperança dela era o filho ser descoberto por um olheiro e que fosse jogar em time grande e que ganhasse muito dinheiro, então olhei pro garoto e perguntei se ele tinha um  sonho, ela nem deixou o garoto abrir a boca e respondeu que o sonho dele era ser famoso, comprar um iate, namorar uma atriz famosa da tv, ser empresário de grupo de pagode e comprar uma casinha pra mãe dele, “-Num é filho?”, o ônibus chega e eu fico na porta do abatedouro do seu Hélio, que abriria depois depois das 7, lembram? E já eram 8h e 15min...e eu de repente me pego pensado naquele menino, naquela mãe e naqueles 7X1, ali na frente do abatedouro de frango, e apesar de ser um admirador de futebol, de ser torcedor apaixonado pelo meu River, em Teresina e pelo glorioso Botafogo aqui no Rio, fico matutando se as falcatruas que envolvem o mundo do futebol teriam alguma coisa a ver com isso, ou melhor, pior, caso queiram,  com aquilo e vejo que a corrupção é uma coisa comum no Brasil, e agora tenta chegar em outros esportes, vejam o caso CBV, atravessando uma grave crise ética, porem  os jogadores de voley, com mais anos em bancos de escola e com mais  brio entre suas pernas não baixaram suas cabeças diante dos  cartolas e batem de frente pela história e pela honra....puxa vida 7x1, e já quase 9hs, quando de repente surge seu Hélio, de jaleco branco, era o dono do abatedouro e eu já quase abatido pela espera percebo nele um personagem misto de Fellini, Almodovar e Tarantino e ao levantar suas portas, passa a pedir desculpas pela minha espera , o horário de verão deixava-o confuso e tudo om um sorriso que tirou de mim qualquer suposição ou raiva, contou-me rapidamente ,no tempo dele , sua pequena longa história de vida, um homem simples, de uma vida simples, e me contava aquilo enquanto cortava o frango pela cabeça, tirava-lhes as vísceras e, depenava-o..foi me contando que tinha agora poucos clientes e que fazia questão dele mesmo atender  e sabia o nome de cada um deles. Quando terminou, fiz-lhe o pagamento em dinheiro vivo, como dizem, mas pra mim era apenas mais um pedaço de árvore morta, com o qual pagava por um animal que estava vivo e foi morto para alimentar seu superior na cadeia alimentar, eu, justamente eu que me sentia abatido pelo meu pensamento sobre os sete a um. Sobrevive melhor quem se finge de morto!

Depois que saí do abatedouro, com o frango abatido dentro do saco, volto pra casa cansado e penso nos atendentes de telemarketing, pois antes de encontrar pessoalmente com o dono , fui informado por quatro pessoas dos horários que Seu Hélio abriria seu estabelecimento, e os horários foram depois das 7h, as 8hs, as 8h30m e as 9h respectivamente e pela falha de comunicação descobri que o tempo de seu Hélio é outro, então que se respeite o tempo de seu Hélio....e o tempo dele não é o de verão! Então isso tudo me deu sede, que tal um copo dágua......água?

Bom, ai isso já é outra história!

Mocha
Niterói 27 de janeiro de 2015

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