quarta-feira, 24 de agosto de 2022

 Não, Soul leve

Não! Eu não sou perfeito
Nem santo quero ser
Soul tantos e não sou ninguém
Sou a rua que atravesso
O mar em que navego
Sou o sol que nos protege
Sou a lágrima que te molha
O teu suor que em mim escorre
A tua porra em minha mão
O grito que te invade
O olhar de fim de tarde
Soul areia do teu chão
A memória da parede de tua pele
A saliva que penetra tuas entranhas
Tua boca em minha nuca
Tuas pernas , nosso abraço
No enredo da canção
O teu peso em meu corpo é tão leve
O teu dedo que faz sair do chão
Vejo o céu em tua boca enquanto gozo
Soul faísca , soul fumaça
Esse fogo que nos queima com razão.
Mocha
Praça da Graça
Agosto de 2021.
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, árvore e ao ar livre
Você, Kenard Kruel Fagundes, Maria de Fatima e outras 7 pessoas

quinta-feira, 30 de junho de 2022

 O Homem , o Sinal  e o Menino.




Tomara seu café como fazia semanalmente quando vai para Teresina fazer seu trabalho, missão teatral que carrega, como tantos colegas espalhados pela capital, pelo estado e pelas cidades dos outros estados do Brasil. Daquela vez , por proximidade do local da reunião, escolhera uma panificadora próximo a praça do marquês, reduto de sua infância e adolescência; enquanto degustava prazerosamente o bom e velho café com leite, e um pão na chapa com ovo e queijo coalho, lembrava-se, olhando pela parede de vidro, de uma antiga quadrilha junina chamada Bole - Bole, aquilo remexera suas memórias e alimentava sua alma de lembranças. Pagara seu consumo, enquanto um senhor na fila reclamava pela demora no atendimento, chamando  atenção pela intolerância logo no começo de uma manhã, feito o pagamento, saiu pela porta , caminhara o quarteirão entre a panificadora e a praça, na rua Des. Pires de Castro, sem saber quem fora o distinto senhor que dera o nome daquele passeio.

Chegara a praça, observando um pai que ajeitava o cabelo do filho, sentados ali, aguardando o horário do início das aulas na velha escola Eurípedes de  Aguiar , esse sim , conhecido de boas conversas na praça Pedro II, pois poucos desconhecem sua história e por ser pai da ilustre Genu Moraes. Com essas lembranças atravessadas em sua memória, repara então pela primeira vez, no garoto que esperava para fazer o percurso até seu educandário, olhou-o e esperou que o homem passasse a rua, como sinal de segurança, tomara a  atitude consciente que não corriam o menor risco, ficaram  ali próximos naquele instante na terceira margem da Alameda Parnaíba, o mesmo gesto se repetiu, olhou-o novamente , como se aguardasse um sinal para que pudesse atravessar o restante também em segurança. Enfim, atravessaram  os dois, ele para sua  reunião de trabalho no Cefor, o menino,  certamente, para sua sala de aula, onde se juntaria aos colegas e aos professores, O homem continuara caminhando enquanto observava o sinal de trânsito, com as cores amarelo, verde e vermelho. Mas os olhos do menino para o homem, esse sinal , aquela comunicação , entre o que fora e o virá, esse jamais será esquecido!


Mocha

Teresina, manha de quinta feira de junho, 30


domingo, 13 de março de 2022

Insuportável




Para: Fernando, pois é preciso ter fé!


Quantas dores pode um peito suportar?

Quantas cores pode um homem enfeitar?

Quantos amores, como em cada canto ele vai acontecer?

Quantas histórias e memórias pode o homem preservar?

Quantas guerras, tantas perdas, quais caminhos é preciso percorrer?

Quantos seres é preciso conhecer?

Como conviver, quanto suportar?

Como aprender a entender e o que perder?

Como apreciar o que voce pode ganhar?

O que fazer pra merecer para viver?

Vender a alma pra  apenas ter onde morar

Tirar o lugar de quem já estava antes de mim

Armas na mão, que ilusão , pois vai matar

e vai morrer e vai sofrer no próprio chão

podemos agora parar a guerra, se cada um pegar na mão de seus irmãos     

Quem suporta a dor do outro, quem vai chorar, quem vai partir?

Pra onde vamos , todos nós nesse momento?

O que fazer pra evitar o sofrimento?

Espero , irmão te consolar com meu lamento

Faço canção pra evitar voce chorar

Escute a voz que vem do céu , das mãos de Deus  

deixar ouvir o coração nesse pulsar.

Quem sabe ouvir a música vai preencher esse vazio

Vamos  cantar juntos e mandar essa tristeza pra outro lugar....


"Cantando eu mando a tristeza embora"

Caetano Veloso


Mocha

Teresina, 14 de março de 2022


sábado, 15 de janeiro de 2022

 Ouvir

dedicado aos segredos de liquidificador do poeta Cazuza.



Entre, pode entrar

a porta da fala é o meu  ouvido

estou aqui pra te escutar.

Entre, adentre

solte sua língua, nosso segredo

o teu silencio quero quebrar

Fale , seja sua voz, lugar de fala

ninguém aqui vai te calar

Entre , o palco é  seu

seja sua luz, o seu brilhar

Falar é música 

Teu toque mágico na partitura do meu pulsar 

pode pegar

estou atento sou todo ouvidos

pode falar

estou aqui pra  te escutar

De onde vens eu não me importo

de qualquer rua, qualquer lugar

seja alado, seja navio, seja voar

te digo , estou aqui , pode falar.

fala comigo

pois eu estou aqui pra te escutar

quem sabe assim em qualquer esquina

na guanabara

Se  te encontro , vamos cantar

tomar algumas ou quem sabe todas, sentar na mesa pra conversar,

pode falar, voce é querido

e estou aqui, pode contar.


Mocha

Rio, janeiro de 2022

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 Algo




há algo em mim que não morre

há algo de ti que em mim , vive

há algo em mim que não cala

há algo em mim que não sente

há algo de ti em meu corpo

há algo de mim em tua mente

há algo em mim que é dança

há algo em mim que não olhas

há algo em ti que é semente

há algo em mim que não brota

há algo em mim que não cala

há algo de mim que é corrente

há algo de ti quando beija

tua língua em  mim , eu dormente

sou teu  trilho , estrada do corpo

do teu olho em mim , é vidente

há algo em mi que não cessa

tua força entra em mim , tão potente

há algo em mim que tem pressa

tua porta aberta, pungente

há algo em mim que importa

tua presença passagem presente

tua ausência  indo embora revolta

o que ainda em mim que te sente

vais embora , não olhas pra trás

só queria de ti novamente

ser amante , sua entrega , ser carne

Tua alma que a minha pressente.


Mocha

Rio de Janeiro,  janeiro de 2022