terça-feira, 16 de junho de 2015

Denise, como assim?

                




                Já faz tanto tempo que não te vejo, e voce nunca deixou de ser importante pra mim e ontem a tarde soube de sua partida tão inesperada, tão abrupta e fiquei em silêncio no sofá da escola, as coisas continuavam acontecendo ali ao meu lado e eu fiquei parado, pensando, lágrimas corriam silenciosamente dos meus olhos e tudo continuava girando ali e girava cada vez mais veloz e eu parado ali e veio todas as lembranças possiveis de tudo que passamos juntos, veio a memória a loteria de seu pai que ficava ao lado do teatro 4 de setembro, quando nos conhecemos e de nossas conversas, nossos encontros no Nós e Elis, do pau de xexéu que ficava do lado, do banco da praça onde tantas vezes varamos a madrugada enquanto nosso bar esperança fechava suas portas....tanta coisa , tantas risadas....e agora nunca mais seu riso solto, sua alegria, seu abraço, suas cobrices, sua diversão, suas histórias....e que histórias..Quem seria capaz de usar  a certidão de nascimento como papel higiênico por ser naquele momento o unico papel disponivel?, Quem seria capaz de ser presa no meio da festa e voltar meia hora depois na mesma viatura que havia te levado por engano? Quem irá fazer nossa alegrias com histórias tão bobas, mas tão gigantes, tão divertidas....então como assim que voce se foi? Como Assim?...e agora foi para sempre, desde que voce deixou Teresina e se mandou pra João Pessoa....já faz tanto tempo, e quando nos encontramos anos depois ai na Paraíba, parecia que o tempo não tinha passado e ainda bem que pude estar perto de voce e te abraçar...foi tão divertido, tão emocionante...ainda guardo aquele postal que voce me enviou e eu guardei na minha velha caixa de proteger memórias...e de vez em quando eu pego e vejo , e rio sozinho.
Mas sua morte me deu um susto, embora saiba que tudo tem um fim e nunca nos preparamos pra quando chega  a nossa derradeira hora, nunca temos tempo pro tempo do outro que se acaba, temos o nosso próprio tempo, o tempo de não deixar que laços tão fortes e ao mesmo tempo tão fragéis se quebrem, por que por mais que não estejamos perto, não nos vermos todos os dias...tem pessoas que ficam pra vida toda, não importa quanto tempo elas tenham ficado perto de nós, importa sim o que fizemos juntos, e juntos sorrimos e choramos, nos divertimos, bebemos, conversamos as vezes seriamente, as vezes era só conversa jogada fora mesmo , só pelo prazer de estarmos juntos mesmo no silencio....vou sentir falta de seu riso, marca registrada que antecipava seu bordão " Como Assim?"....agora entendo que voce era muito grande para Teresina, a cidade já não te cabia e voce voou em busca de ser melhor do que já era....Vou sentir agora mais saudades , mas também vou ficar feliz por que voce encheu nossas noites de alegria e todas as lembranças suas são extremamente positivas pois sei que com voce não tinha tempo ruim, sua alegria era um assombro e como todo assombro voce foi passageiro. Ainda bem que voce existiu e existará pra sempre em nossas memórias e em nossos corações...Valeu Denise! e voce de onde estiver irá perguntar :"- Como Assim?"    

Mocha.
tarde dequente de segunda em Teresina.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Meninas de Castelo




No castelo do sertão já não existe infância
os lobos peregrinam livremente e a vovozinha, 
aquela velha senhora idosa ainda manda no curral.

As meninas foram brincar de Cinderela no alto do castelo
 as pequenas cidadãs viraram brinquedos nas mãos dos cães, 
mandíbulas agourentas que lhe sugaram o sangue virgem.

Quem lhes chora agora em pleno despenhadeiro?
Quantas mais serão jogadas pela estrada a fora?
Quantos lhes defloram a infancia?
Quem manda no castelo e nos palácios?

Os sinos não dobram pelas meninas.
Sininhos nas mãos dos serviçãis que nos roubam 
com  a luva branca , verde e amarela da impunidade.

Nesse país onde só existe saudade.....
das meninas que se foram!
do futuro em que sangramos!
do enterro de um passado que resiste!
de nossa sina tão triste....

Noticias que embalam nosso dia a dia 
essa jornada da infância , tantas jornadas bruscamente interrompidas.
Onde nada faz sentido, onde se perde a noção
do que é errado, do que é certo....
O que será de nossas vidas?


Mocha
domingo de junho em uma ponta do castelo.