quarta-feira, 6 de setembro de 2023

 

O REENCONTRO FORA DOS PALCOS



Hoje sai de casa as 06 da manhã, rotina de todas terças , quartas , quintas e sábados, moro na cacimba velha e o deslocamento atá a capital é extremamente difícil devido as condições da estrada e da precariedade no serviço de transporte coletivo, que dura há anos, e ninguém resolve, resolvi parar no mercado do mafuá para tomar meu café com beiju depois de tres semanas sem carimbar meu cartão fidelidade, tive uma noite tranquila de descanso depois da nossa maratona de teatro com as turmas de teatro experimental do IFPI e do teatro infantil da Fundação Municipal de Cultura Mons. Chaves, que funciona no Núcleo de Formação Antonino Freire, antigo Instituto de Educação, e ontem também foi dia do meu natalício e também, há cinco anos o dia da passagem para o palo espiritual de dona Maricota, minha mãe, período em que também não mais faço festa de aniversário.

Durante o percurso até o mercado entre a Miguel Rosa , vejo de longe um antigo colega de grupo de teatro, numa esquina que está ficando conhecida como a cracolândia do mafuá, onde há algum tempo passado também encontrara uma antigo colega, egresso do mesmo grupo , famoso em Teresina, por conta do destino , não chegamos a nos falar….até que quando me sento no quisque 23 da praça de alimentação do mercado, uma mão me toca as costas, e para minha surpresa, era meu antigo colega, muito magro, quase decrépito, consumido que está pelo uso recorrente de alcool e outras drogas, pediu-me que lhe pagasse um café da manhã, quase resisti em cometer essa boa ação, mas algo me impeliu que o convidasse a sentar e me acompanhasse, começamos a conversar e me fez relatos dolorosos sobre sua situação, contara-me que fora ao aniversário do nosso Theatro 4 de Setembro, e o misto de reações ao encontrar velhos amigos, disse-me que por um momento, sentiu-se como um fantasma; lembrei-me deua saudos mãe que também já desencarnou há tres anos,e ele me contou da cena que lembrava da noite em que ela falecera, da ambulância chegando, e da saída para o hospital quando ele subira impensadamente no parachoques do veículo e deu de cara com os grandes olhos azuis de dona Dalva, sua mãe, que eu chamava carinhosamente de estrela Dalva, pois ela fora nossa aluna na UNATI Uespi, e que nunca esquecera aquele olhar e que isso era um pensamento recorrente e que ele nunca compartilhara até hoje,quando nosso reencontro no mafuá aconteceu, sabe-se lá porque? Disse-me que não acreditava em Deus, eu tenho uma espiritualidade em constante evolução, resignei-me para entender os desígnios de nosso encontro na amnhã de uma quarta feira. Evidente que choramos juntos, enquanto as pessoas ao lado olhavam sem entender aquela situação de afeto, carinho e uma conversa entre velhos amigos. Teve um momento em que a conversa ficou um pouco mais dura e dolorosa, pois pena é um sentimento que não me cabe sentir, disse-lhe coisas extremamente perturbadoras, pedi que se cuidasse pois ninguém o faria por ele, disse-lhe estava indo a São Luís do maranhão visitar minha única tia viva, pois preciso de forças pra continuar resistindo e sobrevivendo como artista e arte educador em Teresina, tomar um banho no mar e recebr as bençãos e proteção da espiritualidade e da ancestralidade, disse-lhe então que todas as vezes que estivesse a ponto de fraquejar diante das drogas, lembrar-se dos olhos de sua mãe e de como e quanto ela fizera para ajudá-lo, que encontrasse forças para resistir e voltar a ser como já fora, não que se tornasse muito melhor do que jamais fora. Rimos um pouco no meio das lágrimas e falamos de como Teresina é uma cidade que maltrata os próprios filhos, das dificuldades que todos nós passamos e de como o artista que depende unicamente deu trabalho para sobreviver, passa. Nos despidimos e ele me pede 10 reais para pegar uma moto pra voltar pra casa do pai, quase nego a ajuda financeira, mas novamente fui impelido a dar um voto de confiança para ele. Sai do mercado e olhei para ele se afastando de mim, antes nos abraçamos, e ele disse-me que não havia tomado banho que estava suado, como sou extremamente chato com higiene, relutei, mas deixei-me abraçar, fiquei ali por uns segundos nos braços de meu velho amigo, enquanto algumas lágrimas ainda escorriam de seus olhos nos meus ombros, disse-me então que estava se sentido melhor, pelo café, pela conversa e pelo abraço….

Dei as costas, e ao chegar na porta do mercado, comprei um feijão verde, pensei em minha tia Mundoca, no almoço que farei para ela e minhas primas quando chegar em São Luis amanhã. Pensei em minha mãe, na saudade, no dia de ontem quando Deus me ensinou sobre nascer e morrer, pensei em Dona Dalva, mãe de meu amigo que acabara de ver na praça de Alimentação….essas coisas que a vida nos ensina todo dia, que Deus nos mostra, que as esquinas nos esfregam na cara.

Viver é uma oferta, saber viver é uma escolha…. Eu escolho viver, seja dolorido, seja prazeroso, seja triste, ou seja alegre, o importante é que seja poesia!



Moisés Chaves

Teresina, 06 de Setembro de 2023

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