segunda-feira, 24 de novembro de 2025

 A Delicadeza do Silêncio na Voz do Filho de Mil Homens





Até onde a arte chega? Até onde ela é capaz de tocar? Um livro, um filme, uma música, uma palavra, um olhar… O que nos leva assistir, a ler, a ouvir, a sentir? O que nos emociona, nos faz parar, nos faz refletir? Quanta beleza cabe em uma película? Quanta riqueza exposta pelo cinema brasileiro? E esse mar que nos atravessa, esse continente desconhecido para tantos,esses laços linguísticos entre a direção precisa de Daniel Resende e as palavras de Valter Hugo Mãe, ditas preciosas na voz de Zezè Motta, esse “ cair para dentro de nós”. Disse tudo isso para expressar meu olhar sobre o filme O FILHO DE MIL HOMENS , que tive o privilégio de assistir neste final de semana, e me tocou profundamente, pela densidade do tempo expresso como se fosse uma brisa suave e forte ao mesmo tempo, e os silêncios extremamente comunicativos na delicadeza e na afinação interpretativa do elenco coeso e rico, muito rico de atore gigantes em suas atuações. 

Numa leva gigante de exposição do cinema brasileiro, Daniel conduz com segurança e maestria a direção espetacular e um elenco primoroso, com destaque necessário para Rodrigo Santoro, que cada mais amadurece e recusa o papel de galã com o qual queriam coroá-lo, e para Grace Passô, Inez Viana, Juliana Caldas e Johnny Massaro, que desempenham brilhantemente suas atuações minuciosas e tão dolorosas, uma melancolia que esvai pelo canto dos olhos. Sem falar no elenco adolescente, quanta sinceridade! e o que dizer de Livia Silva? Há de ver pra se deixar levar…

Como não se contaminar pelo andamento do filme, seus silêncios dominantes, cujas palavras são como címbalos de um sino que dobra em uma velha aldeia, em diálogos pequenos porém profundos . 

A riqueza do cinema brasileiro desfila diante de nossos olhos, nem precisa ser um agente secreto para descobrir o que o mundo inteiro está vendo , e nós , cada vez mais nos enxergando nas telas pequenas ou grandes de um país que parece que se permitiu acordar.

Viva o cinema Brasileiro, parabéns a toda equipe do filme, cujas ligações se mostram ancestrais, numa conspiração e convergência de emoções, uma  sintonia afiada que escorre pelos pixels e frames das peles de nossos  olhos.


Mocha

zona rural de Teresina, tarde de sábado de novembro



sexta-feira, 30 de maio de 2025

 

O sorriso do Gato sem Hélice



Ele perdeu todo dinheiro que tinha

nada havia para perder ou ganhar

nem tinha ao menos pasta de dente

ele só tinha a música e o teatro

dançava na corda bamba sem sobrinha

equilíbrio de artista num país sem educação

ele só tinha o não , sempre o não

voltou a ler , a escrever

sentou no banco da escola, sem merendeira

virou a mesa , transou poeta

nunca tivera uma ampulheta

bateu em portas , abriu janelas

puxaram logo o seu tapete, 

vc não pode crescer

ser bom é uma ofensa

quem se aproveita da inocência?

soul indecente, não tem aurora

é luz que brilha no sol poente

ser tão cigarra , ser tão formiga

uma fábula de resistência

Já lhe disseram que artista piauiense bom é artista morto

voce ainda está vivo?

mas voltou com força do fundo do poço

recomeçou e deu uma volta 

o mundo gira, ele capota

quem esteve ao sol do equador

já viu pior 

ser cool no mundo , chão Piauí

por que ainda morar aqui?


Mocha

maio de 2025

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

  Pra não esquecer de mim



A casa está vazia

A geladeira esta vazia

O bolso está vazio 

Caminho á procura  de mim


As ruas estão vazias

As pessoas estão com medo

Uma bala perdida na próxima esquina

 A nova loira  da tv está no carro da policia

a justiça solta, ela ri debochada.

Nos corredores do palácio as jogatinas continuam

Quem dá mais ? Só governa se deixar roubar

Os bares da minha lembranças estão vazios

Nós e Elis ainda canta pra todos .

Cadê a esperança que não dança?

A corda virou forca

O café não está sopa

Olho as telas das tvs, dos telefones, ninguém mais liga

O que procuram? Tudo tão a vista

Nada mais a descobrir 

Um Rio que chora

Uma Teresina de Jesus, que de uma queda foi ao chão 

O bloco dos solitários no carnaval e eu a espera 
de mim.

E vc ainda está ai?


Mocha

Pré carnaval de 2025